Gregor Mendel: O Monge que Decifrou os Segredos da Hereditariedade

Gregor Mendel

Johann Gregor Mendel (1822–1884) nasceu em Heinzendorf, no então Império Austríaco (atual República Tcheca), em uma família de camponeses humildes. Desde jovem, demonstrou uma inteligência incomum e grande interesse pela natureza. Ingressou no mosteiro agostiniano de Brno em 1843, onde adotou o nome Gregor e teve acesso a uma sólida formação científica, incluindo matemática, física e ciências naturais — algo incomum para a maioria dos religiosos da época. Ali, encontrou o ambiente ideal para unir fé, razão e investigação empírica.

Entre 1856 e 1863, Mendel conduziu experimentos sistemáticos com mais de 28 mil plantas de ervilhas (Pisum sativum), buscando compreender os padrões de herança de características como cor, textura e altura. Escolheu sabiamente as ervilhas por suas linhagens estáveis, ciclo curto e fácil controle da reprodução. Ele isolava as flores, controlava manualmente a polinização e mantinha registros rigorosos geração após geração. Foi pioneiro ao aplicar raciocínio estatístico à biologia, algo raro no século XIX.

Seus resultados

A partir desses dados, Mendel formulou dois princípios fundamentais da genética:

  1. Princípio da Segregação: cada indivíduo herda dois fatores (hoje chamados de alelos) para cada característica, um de cada genitor. Esses fatores se separam na formação dos gametas.
  2. Princípio da Segregação Independente: os fatores para características diferentes são transmitidos de forma independente uns dos outros.

Em 1865, Mendel apresentou seus resultados à Sociedade de História Natural de Brno, e os publicou em 1866 no obscuro periódico Verhandlungen des naturforschenden Vereins. No entanto, sua obra passou quase despercebida. Os grandes biólogos da época, como Darwin e seus contemporâneos, ignoraram-no — em parte por desconhecimento e em parte por não entenderem o rigor matemático da análise.

O pai da genética

O isolamento intelectual de Mendel e a linguagem técnica da sua publicação contribuíram para décadas de esquecimento. Além disso, os conceitos de “genes” e “cromossomos” ainda não existiam. Mendel morreu em 1884, sem reconhecimento por suas descobertas. Ele também enfrentava problemas de saúde e sobrecarga administrativa como abade do mosteiro, o que o afastou das pesquisas nos últimos anos.

Somente por volta de 1900, sua genialidade foi reconhecida, quando três cientistas — Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermak — redescobriram de forma independente os mesmos padrões descritos por ele. Logo perceberam que Mendel já havia antecipado suas conclusões décadas antes. A partir daí, seus princípios tornaram-se a base da genética moderna.

Com o avanço da citogenética no século XX, os “fatores” mendelianos foram associados aos genes e aos cromossomos. A síntese moderna da biologia evolutiva, unindo Darwin e Mendel, foi um marco na ciência, consolidando o papel da genética como eixo central da biologia.

Hoje, Mendel é considerado o pai da genética. Seu legado se estende da agricultura à medicina, da engenharia genética ao estudo de doenças hereditárias. As tecnologias de edição genética, como CRISPR, devem parte de sua fundamentação aos princípios estabelecidos no jardim de um mosteiro.

Em sua homenagem, diversas instituições científicas e educacionais levam seu nome, e a UNESCO declarou 2022 como o “Ano de Gregor Mendel”, celebrando os 200 anos de seu nascimento. Há estátuas, selos, moedas e até asteroides nomeados em sua memória.

A vida de Mendel é um lembrete poderoso de que o verdadeiro impacto científico nem sempre é imediato e que a paciência, a observação meticulosa e a curiosidade sincera podem semear revoluções que florescem muito além de nossa época.

Primeira Lei de Mendel: Lei da Segregação dos Fatores

“Cada indivíduo possui dois fatores (alelos) para cada característica, herdando um de cada genitor. Esses fatores se separam durante a formação dos gametas, e cada gameta carrega apenas um.”

Exemplo clássico – cor das sementes de ervilha:

  • A (amarelo) é dominante
  • a (verde) é recessivo

Cruzamento:

  • Genitores: AA (amarela pura) x aa (verde pura)

F1 x F1 (Aa x Aa):

Aa
AAAAa
aAaaa

Proporção fenotípica:

  • 75% amarelas (AA, Aa)
  • 25% verdes (aa)

Proporção genotípica:

  • 1 AA : 2 Aa : 1 aa

Segunda Lei de Mendel: Lei da Segregação Independente

“Os pares de fatores segregam-se de forma independente uns dos outros na formação dos gametas, desde que estejam em cromossomos diferentes.”

Exemplo – cor da semente e textura:

  • A (amarela) é dominante, a (verde) é recessiva
  • B (lisa) é dominante, b (rugosa) é recessiva

Cruzamento inicial:

  • Genitores: AA BB (amarela e lisa) x aa bb (verde e rugosa)
  • F1: Todos Aa Bb (amarelas e lisas)

F1 x F1 (Aa Bb x Aa Bb):

Quadro de Punnett (simplificado):

ABAbaBab
ABAABBAABbAaBBAaBb
AbAABbAAbbAaBbAabb
aBAaBBAaBbaaBBaaBb
abAaBbAabbaaBbaabb

Proporção fenotípica esperada (9:3:3:1):

  • 9 amarelas e lisas
  • 3 amarelas e rugosas
  • 3 verdes e lisas
  • 1 verde e rugosa
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