O conteúdo a seguir é baseado no trabalho EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NAS SNPS T786C E G894T DO GENE ENOS ASSOCIADO À HIPERTENSÃO ARTERIAL(2022). O link para o trabalho original está disponível ao final deste texto.
Como a Genética e o Exercício Físico se Cruzam no Controle da Pressão Arterial
A hipertensão arterial (HA) é uma condição silenciosa, mas perigosa. Muitas vezes sem sintomas aparentes, ela está ligada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, um dos principais fatores de morte no Brasil. Embora a má alimentação, o sedentarismo e fatores ambientais sejam importantes na sua origem, a genética também tem um papel significativo – e é aí que entram os polimorfismos genéticos, especialmente no gene eNOS.
O que é o gene eNOS e por que ele importa?
O gene eNOS é responsável pela produção de uma enzima que sintetiza óxido nítrico (NO) – uma molécula essencial para a dilatação dos vasos sanguíneos. Quando essa função está comprometida, como acontece em pessoas com certas variações genéticas chamadas de polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs), a vasodilatação é prejudicada, elevando a pressão arterial.
Dois SNPs têm chamado atenção na literatura científica por sua ligação com a hipertensão: T786C e G894T. Essas alterações genéticas podem reduzir a produção de óxido nítrico, dificultando o controle natural da pressão.
Exercício físico: um tratamento além dos medicamentos
É sabido que a prática regular de exercício físico pode ajudar a reduzir a pressão arterial. Mas será que essa prática também ajuda quem tem esses polimorfismos no gene eNOS?
Uma revisão de estudos recentes revelou que sim, o exercício tem efeitos positivos – ainda que mais modestos – mesmo em pessoas com essas variantes genéticas.
O que os estudos mostram?
- Caminhadas e treinos aeróbicos moderados a intensos foram eficazes em reduzir a pressão arterial em idosos com o polimorfismo T786C, embora a resposta tenha sido menos acentuada do que em pessoas com o gene “normal” (selvagem).
- O polimorfismo G894T demonstrou menor sensibilidade aos benefícios do exercício aeróbico em alguns estudos, mas mostrou resposta favorável em programas de treinamento multicomponentes.
- Já o treinamento isométrico – como manter posições fixas em contração – também apresentou benefícios interessantes para o controle da pressão.
Apesar das variações individuais, todos os estudos analisados apontam para um ponto comum: o exercício físico promove melhora na função endotelial e na regulação da pressão, mesmo em indivíduos com predisposição genética à hipertensão.
E o que isso significa na prática?
Se você tem hipertensão, especialmente com histórico familiar da condição, praticar exercícios físicos regularmente pode ser uma ferramenta poderosa no controle da doença – mesmo que você tenha uma predisposição genética.
Claro, a intensidade, o tipo de treino e a frequência precisam ser adequados ao seu perfil. Consultar um profissional de saúde e realizar exames genéticos pode ajudar a personalizar ainda mais esse cuidado.
Conclusão
A interação entre genética e estilo de vida é complexa, mas encorajadora. Embora pessoas com os polimorfismos T786C e G894T no gene eNOS possam ter uma resposta menor à prática de exercícios físicos quando o assunto é controle da pressão arterial, os benefícios ainda existem – e são significativos.
Portanto, o exercício físico se firma como um tratamento não farmacológico eficaz, acessível e com impacto real na qualidade de vida de pessoas hipertensas, independentemente do seu código genético.

Título do Trabalho: EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NAS SNPS T786C E G894T DO GENE ENOS ASSOCIADO À HIPERTENSÃO ARTERIAL