O Gene Egoísta é uma das obras mais influentes da biologia moderna, escrita pelo etólogo e biólogo evolucionista britânico Richard Dawkins e publicada originalmente em 1976. O livro apresenta uma abordagem inovadora da evolução, centrando a seleção natural não no indivíduo nem na espécie, mas nos genes como as verdadeiras unidades fundamentais da seleção.
A Teoria do Gene Egoísta
Dawkins propõe que os genes são os principais “agentes” do processo evolutivo. Em vez de ver os organismos como os principais alvos da seleção, ele argumenta que os organismos são “máquinas de sobrevivência” construídas pelos genes para garantir sua própria replicação.

Nesse contexto, o termo “egoísta” é uma metáfora: não se refere à intenção ou consciência dos genes, mas sim ao fato de que os genes que se replicam com mais eficiência — ou seja, que são mais bem-sucedidos em se perpetuar — tendem a dominar as populações ao longo das gerações.
Os Genes como Replicadores
Inspirado pelas ideias do biólogo George C. Williams e do matemático John Maynard Smith, Dawkins define os genes como replicadores: unidades de informação que se reproduzem com alta fidelidade, gerando cópias de si mesmos ao longo das gerações. A seleção natural, nesse modelo, favorece os genes que aumentam a probabilidade de sua própria replicação, mesmo que isso ocorra por meio de comportamentos complexos e até aparentemente altruístas.
Implicações da Teoria
Uma das implicações mais notáveis dessa visão é a explicação para comportamentos altruístas na natureza. Dawkins populariza o conceito de seleção de parentesco (kin selection), proposto por W.D. Hamilton, segundo o qual indivíduos podem se sacrificar por parentes próximos se isso aumentar as chances de sobrevivência de genes compartilhados.
Ele também introduz o termo “meme” — uma unidade de informação cultural que se replica de forma análoga aos genes — antecipando décadas de estudos sobre transmissão cultural e até o fenômeno moderno dos “memes” na internet.
Críticas e Controvérsias
A teoria do gene egoísta, embora influente, também gerou debates. Críticos afirmam que a visão centrada nos genes pode ser reducionista, negligenciando os níveis superiores de organização biológica, como o organismo, os grupos e o ambiente. Além disso, alguns biólogos acusam a metáfora do “egoísmo” de ser potencialmente enganosa, sugerindo intencionalidade onde não existe.
Outros autores, como Stephen Jay Gould e Richard Lewontin, defenderam abordagens mais integrativas e holísticas da evolução, enfatizando a importância de interações entre níveis múltiplos de seleção (gene, indivíduo, grupo, espécie).
Conclusão
O Gene Egoísta continua sendo uma obra de referência na biologia evolutiva. Sua proposta de enxergar a evolução a partir da perspectiva dos genes trouxe uma nova forma de pensar a vida, influenciando não apenas a ciência, mas também a filosofia, a psicologia e a cultura popular. Mesmo com críticas e debates em torno de sua abordagem, o livro consolidou Richard Dawkins como um dos grandes divulgadores científicos do século XX — e segue instigando reflexões profundas sobre a natureza da vida e da evolução.